Fundamentos estéticos do Simbolismo


Fundamentos estéticos do Simbolismo

A estética simbolista fundamenta-se em três pressupostos: idealismo no conceito de imitação, sentido de originalidade na criação e sentido de construção na atividade artística.
O primeiro pressuposto consiste em considerar que o objeto imitado seja uma entidade transcendente. Embora essa idéia remonte a Platão, será em Plotino que descobriremos o veio inicial. Escreve ele na Eneada V: Se alguém despreza as artes porque não fazem senão imitar as coisas naturais, é preciso dizer, em primeiro lugar, que as próprias coisas e, em segundo lugar, é preciso saber que as artes não imitam diretamente os objetos visíveis, mas se voltam para as regiões de que estes dependem e assim são capazes de fazer muitas coisas por sua própria conta e de acrescentar o que falta às coisas naturais.
A originalidade na criação constitui o segundo pressuposto do Simbolismo. A arte se considera como originalidade absoluta, de modo que seus produtos não se deixam reconduzir à realidade natural. Isto se dá porque a arte se concebe como conhecimento de uma realidade transcendente a toda pesquisa cientifica, mas também porque se aceita a arte como forma de sentimento fantástico, ou seja, transfigurador das percepções e das sensações.
O terceiro pressuposto, presente em Baudelaire, mas originado de Edgar Allan Poe, consiste em privilegiar o sentido de construção na atividade artística. Formula-se, genericamente, como defesa da identidade entre produção artística e sua técnica. Conseqüências desse pressuposto são: considerar a arte como práxis lúdica, como atividade pratica que é um fim em si mesma; não ver na arte senão a função expressiva, de modo que, se ela tiver uma função educativa, tem-na no sentido de que a educação nasce da sua função expressiva; na esfera da linguagem, idealizar a poesia como um modo privilegiado de expressão lingüística. Aqui se imbricam as vigas do simbolismo intelectualista: o ironismo de Laforgue e as experiências verbais de Mallarmé.
Na sua constituição, o Simbolismo alimenta-se das teorias de Carlyle, do pensamento do filosofo Nietzsche, da musica, mais do que da musicologia, de Wagner. De modo que, ao fim e ao cabo, podemos determinar, para a arvore estética simbolista, um solo neoplatônico, um tronco formado por Baudelaire, de que saem três galhos: o mais encorpado está constituído pelo tipo de poesia que reconhecemos ao ler Paul Verlaine ou René Ghil: aproveita o sentido baudelairiano de correspondência entre afetos ou vontades. A poesia se concebe como visionária e também musical no sentido especificamente baudelairiano de que as palavras evocam sentimentos, mas sem nenhum significado especifico que comunicar, em livre atividade da fantasia.
O terceiro galho, mais fino porém duro e praticamente inquebrável, está constituído pelo tipo de poesia empreendida por Mallarmé e, noutro aspecto, por Jules Laforgue. A poesia se concebe como musical, no sentido que lhe emprestou Mallarmé: de que as palavras, em seu plano conceitual e na sua estruturação morfossintática, podem simular uma composição da obra musical, uma espécie de partitura de palavras.